In
Dumplin
Eu me
lembro claramente do dia em que conheci o livro Dumplin, escrito
pela autora Julie Murphy e que se destaca por contar uma história cômica e real
sob o ponto de vista de uma adolescente gorda. Naquele dia eu estava matando
tempo na livraria do shopping enquanto esperava dar a hora do cinema e fui
atraída por uma capa linda, simples mas que chama a atenção de quem passa por
ela. Lá mesmo comecei a leitura e me apaixonei de num tanto que baixei no
Kindle assim que cheguei em casa e terminei no mesmo dia. Um pouco depois de
ler o livro, vi uma notícia nas redes sociais que dizia que a história ia virar
filme da Netflix e fiquei bastante animada, como sempre acontece quando eu
descubro que vão trazer meus personagens preferidos a vida, mas também meio
nervosa porque eu bem sei como o cinema as vezes pode acabar com toda uma magia
se não tomar cuidado e tratar bem daquilo que foi escrito. Ontem, dia 07, o
filme foi finalmente lançado e eu tenho umas opiniões bem fortes sobre ele
então tirei a poeira desse blog pra compartilhar ela com o mundo (ou pelos
menos quem vai ler isso aqui, valeu pela moral viu?).
Esse filme
pode ser visto de dois jeitos e eu vou começar falando dele da primeira forma,
como quem nunca leu o livro e está tendo contato com a narrativa pela primeira
vez. A história é a da Willowdean (Danielle Macdonald), uma adolescente gorda e
aparentemente feliz com o próprio corpo, que foi criada pela mãe e ex-miss
Rosie (Jennifer Aniston) e pela tia também gorda e bem resolvida Lucy (Hilliary Begley). Por motivos óbvios a relação dela com a tia sempre foi melhor que com a própria mãe e por isso que é tão sofrido pra ela quando ela morre. Nesse momento difícil ela se apoia nas duas coisas que ela ama e conheceu por intermédio da Lucy: a melhor amiga Ellen (Odeya Rush) e o amor pela Dolly Parton. Além de tudo isso, ela ainda tem uma paixão platônica pelo colega de trabalho Bo (Luke Benward) e um ranço interminável pelas meninas que participam do concurso de beleza da cidadezinha dela, que por sinal é coordenado pela mãe da mesma. É no meio dessa confusão toda, como uma forma de homenagear a tia e lutar contra os padrões impostos pelos concursos de beleza, que ela se junta com mais um grupo de meninas fora do padrão e decide entrar na competição, só pra provocar.
O filme tem
um tom leve e engraçado apesar de tratar de um tema super importante, o que é
bom porque diverte e ainda passa uma mensagem ainda muito necessária nos dias
de hoje. Ele fala sobre gordofobia, amor próprio, relacionamento entre mãe e
filha e ainda apresenta com naturalidade personagens LGBT+ como a Hannah
(Bex Taylor-Klaus) e um grupo de drag queens que tem um papel importantíssimo
no enredo. Junto com isso tudo a gente ainda vê um lance que não é muito
tratado em lugar nenhum mas que acontece demais por aí, a insegurança de
algumas pessoas gordas em relacionamentos, tanto em entender porque a outra
pessoa está interessada quanto com o que os outros vão falar quando virem o
casal. Eu não achei que o filme perpetuou discursos gordofóbicos, como é o caso
de Insatiable que se utiliza deles pra ser irônico e criticar, e inclusive me
senti bem representada em alguns momentos, um pensamento meio que "nossa,
é exatamente assim que eu me sinto!".
Ah, posso
falar que amei os figurinos do filme? Um dos meus maiores problemas com Sierra
Burgess É Uma Loser por exemplo era como vestiram mal a personagem,
principalmente na cena do baile. Poxa, eu entendo que a menina é gorda, mas não
dava pra colocar um vestido de festa bonito nela? Dumplin não tem esse
problema, todos os looks da Willowdean quando ela está arrumada real são
lindos, ela está tão linda na cena da parte de talentos do concurso de beleza
que eu fiquei meio in love haha. As outras meninas também tão muito lindas,
cada uma no seu estilo, achei tudo muito bem escolhido e de muito bom gosto.
Já a trilha sonora fica por conta, óbvio, da musa Dolly Parton, que inclusive gravou Here I Am, um single inédito em parceria com a Sia, especialmente pro filme. As músicas da Dolly tem um astral maravilhoso e eu achei que combinou com a vibe que o filme quis passar e com os personagens que ele tem.
Falando
sobre o elenco, achei a maioria dos atores bem escolhidos, eles encarnaram bem
os personagens do jeitinho que eu imaginei lendo o livro mas, como nem tudo é
perfeito, quero aqui fazer uma reclamação formal sobre o Luke Benward, o ator
que interpreta o Bo. Não to falando mal da atuação dele não ta? O meu problema
é outro. Gente, esse homem parece que tem 30 anos na cara e era pra ele estar
NO COLÉGIO! Eu não consegui sentir química nenhuma entre os atores por isso, eu
sempre achava que eles tavam em faixas etárias diferentes e que era muito
estranho pra proposta do filme mesmo sabendo que não é bem assim na vida real.
Ah, um minuto de silêncio pra como a Jennifer Aniston ta linda e perfeita nesse
papel de miss decadente. Essa mulher não envelhece, eu ver ela em Friends e
nesse filme é a mesma coisa, eu nunca vi um negócio tão bizarro assim em toda
minha vida, QUE MULHER! Já a trilha sonora fica por conta, óbvio, da musa Dolly Parton, que inclusive gravou Here I Am, um single inédito em parceria com a Sia, especialmente pro filme. As músicas da Dolly tem um astral maravilhoso e eu achei que combinou com a vibe que o filme quis passar e com os personagens que ele tem.
Agora
falando do ponto de vista de quem leu o livro: ai, mas deixaram tanta coisa de
fora! Se você ainda quer ler pode pular essa parte porque tudo é spoiler mas eu
preciso falar de tudo que eu senti falta vendo o filme. Pra começar, eu sinto
que o livro tem muito mais do relacionamento Will e Bo do que o filme, no filme
eles nem falam que ele é o único que chama ela assim, não dão a devida
importância a um apelido tão deles e nem a todo o resto desse relacionamento
que me deu arrepios em todas as cenas que eu li no livro. A briga entre a Will
e a Ellen também foi totalmente minimizada, os motivos reais pra ela acontecer
foram apagados e tudo se resumiu a Will sendo invejosa porque a amiga é magra,
o que não é bem assim. Originalmente, elas tem um problema bem mais profundo
porque a Ellen não divide as coisas do seu relacionamento com a melhor amiga e
sim com a Cassie, o que aumenta o atrito entre elas. Por fim, no filme ninguém
menciona um outro relacionamento que a Willowdean tem e super ajuda a moldar
ela como pessoa até o final da história, o triângulo amoroso que se desenrola
nas páginas pra mim foi tão importante quanto todo o resto e eu não gostei de
não ver ele retratado no filme. Isso tudo não diminui meus sentimentos pelo
filme, eu gostei da história, de como ela foi retratada, mas é impossível não
sentir falta de pequenos detalhes que precisam ser cortados pra caber nas quase
duas horas mas que pra mim são de extrema importância. Aconteceu a mesma coisa
comigo vendo Para Todos os Garotos que Já Amei, eu já devia estar acostumada,
mas eu nunca vou deixar de sofrer pelas pequenas coisas não contadas.
Em suma é
isso, amei o filme mas, tendo lido o livro, achei que faltou pra chegar naquilo
que eu imaginei na minha cabeça. De qualquer forma, eu acho que todo mundo tem
que ver ele pelo menos uma vez pra tentar entender como funciona a cabeça de
uma adolescente gorda mesmo que superficialmente e aprender cada vez mais a ter
empatia com todos. É ótimo pra uma tarde de netflix and chill, vocês não vão se arrepender, eu juro!