Black Mirror 4 do pior ao melhor

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Se tem série mais hypada nos dias atuais que Black Mirror eu desconheço e é aí que mora o perigo das altas expectativas. Mesmo antes de lançada, a quarta temporada já causava burburinho na internet, todos ansiosos esperando episódios que quebrassem a nossa cabeça e nos fizessem refletir sobre a vida por horas olhando pro teto. Daí fica fácil entender porque algumas pessoas se decepcionaram com os seis episódios liberados pela Netflix na última sexta-feira (29/12), a série tinha dois trabalhos diferentes: ter qualidade e sobressair as histórias anteriores que conquistaram o mundo de um jeito impressionante. Eu não penso assim, ao meu ver as coisas tem que ser julgadas separadamente, sem comparações, focando em cada episódio exclusiva e separadamente. Claro que, mesmo assim, nem todos foram amor né? Vou contar o que achei de cada episódio, do pior para o melhor na minha humilde opinião, depois vocês me dizem se concordam ou discordam de mim ta? 


#6 - Metalhead: O que mais me incomoda nesse episódio é que tudo fica no ar, pra nós entendermos sozinhos, sem muito contexto sabe? Ele mostra um trio de amigos dirigindo até um armazém pra roubar alguma coisa lá dentro, alguma coisa que uma criança precisa para ter conforto nos últimos dias de vida. No meio dessa empreitada dois deles acabam sendo mortos por uma espécie de cachorro robô assassino do demônio, um bicho bizarro que atira rastreadores na pele e explode cabeças de quem entra no caminho dele. O resto do episódio segue a mulher sobrevivente enquanto ela foge desse robô, mostrando mais ou menos como anda o mundo naquele momento. Como eu já disse, a falta de contexto me incomoda muito nessa história, você sabe mais ou menos o que está acontecendo mas não tem ideia de como tudo chegou naquele ponto, porque as coisas estão assim, nenhuma resposta é dada e isso me irrita. Além disso, o negócio todo rola em preto e branco e eu não entendi muito bem o motivo, acho que foi só pra deixar mais cult mesmo, o que pra mim faz zero sentido. Pra não dizer que é de todo ruim, a atriz principal, Maxine Peake, que passa a maior parte dos 40 minutos sozinha, atua muito bem e o final traz um elemento emocional, uma revelação que não chega a chocar mas traz uma pequena surpresa que o roteiro precisava desesperadamente. 


#5 - Crocodile: O episódio começa com um casal numa festa muito louca, eles saem de lá dirigindo e acabam atropelando um ciclista na estrada. A mulher insiste pra eles ligarem pra alguém mas o homem se recusa e eles acabam jogando o morto dentro de um saco cheio de pedras no meio do mar. Quinze anos se passam, ela constrói uma família, se torna uma arquiteta de sucesso e é convidada para palestrar em outra cidade, onde reencontra o namorado que ajudou a descartar um corpo. Ele também mudou, está sóbrio e se sente culpado por aquele evento, tanto que deseja escrever uma carta anônima para a viúva do homem que matou, lhe contando sobre o que aconteceu para que ela possa seguir em frente com a vida, já que o corpo nunca foi encontrado. A partir daí ela começa a tomar medidas desesperadas pra evitar que o teto de vidro que ela construiu durante anos se quebre e todos descubram o seu passado obscuro. A parte tecnológica fica por conta de uma segunda história, a de uma mulher que trabalha para uma companhia de seguros e usa um dispositivo que mostra as memórias das pessoas em uma tela pra comprovar se os acidentes aconteceram pra valer ou foram forjados. As histórias eventualmente se cruzam e é interessante ver o cerco se fechando cada vez mais para a Mia e o que pessoas fazem quando estão encurraladas, até onde alguém é capaz de chegar pra proteger um segredo. Com toda a ideia das memórias é difícil não lembrar de um dos meus episódios favoritos, The Entire History of You, e perto dele esse novo não tem chances. Nada é maravilhoso sabe? Ele é ok, tem uma história legal mas não se destaca no meio de outros. 


#4 - Arkangel: Esse episódio mostra como a superproteção dos pais e a falta de privacidade dos filhos pode levar a consequências sérias, de um jeito super exagerado e tecnológico, é claro. Depois de uma experiência traumática, uma mãe decide levar a filha para participar de um projeto em período de testes que injeta uma espécie de chip na cabeça da criança, o que possibilita que um adulto acompanhe seus dados médicos em tempo real, sua localização e até veja o que ela vê com em um tablet, inclusive, com um filtro parental opcional que pode borrar imagens que pareçam assustadoras ou perturbadoras. A filha cresce e começa a ter atitudes agressivas, o que leva a mãe a tomar a decisão de fingir que aquilo não existe mais já que o procedimento não pode ser revertido, o tablet é guardado e finalmente a menina começa a ver o mundo como ele é. Mais alguns anos se passam, a filha agora é adolescente e começa a tomar decisões questionáveis, o que faz com que a mãe volte a espiar sua vida sem ela saber e tomar decisões por ela. Daí fica claro que bom não pode dar né? É um episódio com uma mensagem interessante, falar de relacionamentos abusivos entre pais e filhos é importante, mas eu não sei se chega a ser tão bom quanto eles pretendiam, nada muito maravilhoso rola. É bom, mas é só isso mesmo. 


#3 - USS Callister: O primeiro dos episódios que eu realmente gostei, esse é a prova de que a gente nunca deve julgar o livro pela capa. Essa coisa toda de ficção científica e espaço nunca me agradou, eu nem gosto de Star Wars gente, então quando eu vi o trailer fiquei cética na hora, muito me agradou ver que não era nada daquilo que eu imaginei. O Robert é um gênio da programação e ajudou a criar a Callister, uma empresa que fabrica games de imersão, ou seja, você é transportado pra dentro do jogo e parece que ta tudo acontecendo de verdade. O problema é que o sócio dele levou toda a fama e ele recebe um total de zero respeito dos funcionários e do público em geral, o que causou um certo ressentimento da parte dele. Pra se sentir melhor ele criou uma versão própria do jogo com todas as pessoas que ele odeia no trabalho tendo que servir a ele como capitão máximo de um universo alternativo no espaço sideral inspirado por uma série antiga pela qual ele é obcecado. Não quero dizer muito mais que isso mas no meio desse rolo aí ainda entra a Nanette, uma programadora que foi trabalhar na empresa especialmente porque admira o trabalho dele e parece ser a única que dá valor ao trabalho dele. O episódio fica cada vez melhor quando você vai entendendo o que ta rolando e o quão doente é o cara, é muito legal ver as personalidades que ele usa: uma submissa no trabalho e uma ditatorial no game quando ele vira capitão, te ensina a não mexer com o nerd da escola/trabalho haha. Pra ficar mais maravilhoso ainda tem a Tracy de How I Met Your Mother fazendo a Nanette e ela é um espetáculo de atriz. Esse episódio foi um ótimo jeito de começar a temporada. 


#2 - Hang the DJ: Os episódios com uma vibe mais romântica, que tratam de relacionamentos e situações "reais" sempre me atraem mais, eu gosto de ver a tecnologia de um jeito mais aplicável no mundo real mesmo sabendo que aquilo ali não vai acontecer nunca. No futuro ninguém mais namora, você não tem mais que passar por todos os processos chatos de encontrar o amor da sua vida, existe um programa que te junta com vários parceiros por um período de tempo pré-estabelecido até ter informações suficientes pra achar o seu par definitivo, uma versão menos romântica do amor da sua vida. É desse jeito que a Amy e o Frank se conhecem, num relacionamento à jato de 12 horas. O tempo foi pouco mas eles clicaram na hora, como se já se conhecessem antes. Depois disso os dois foram enviados pra mais parceiros aleatórios e algumas vezes odiosos até caírem juntos novamente e fazerem de tudo pra durar mais. É difícil falar sobre essas histórias sem dar um spoiler e atrapalhar a experiência de quem está lendo mas eu posso afirmar que vale assistir essa história de amor futurística. A brincadeira com os aplicativos de namoro atuais é divertida, os atores principais tem muita química juntos e quem não gosta de um casal que quer ficar junto mas não pode né? O final é muito bom também, demora um pouco pra absorver mas é gênio, eu gostei muito do episódio. 


#1 - Black Museum: Foi o episódio que mais me intrigou com o trailer e não decepcionou, tanto que veio parar no topo do meu ranking né? Ele tem a mesma vibe de um dos meus favoritos, White Christmas, o que significa que existe uma pessoa contando várias histórias para outra. A Nish chega num museu de tecnologia meio detonado e recebe um tour exclusivo (não tinha mais ninguém na fila haha) do dono do museu, o Rolo Haynes, por toda a exposição. Ele costumava trabalhar na área de pesquisa de um hospital e levou vários souvenirs de experimentos que deram errado lá pro museu, e aí ele vai explicando a história de um por um pra ela até chegar na grande atração principal do estabelecimento. Não vou dizer mais nada porque qualquer coisinha é spoiler mas eu posso garantir que o final vai te deixar de cara. Além das histórias interessantes, o mais legal do episódio é procurar todas as referências a histórias antigas e amadas pelo público, tanto dessa temporada quanto das passadas. 

Apesar de alguns bons episódios, a quarta temporada não conseguiu substituir meus favoritos supremos: White Bear, Shut Up and Dance e The Entire History of You. Como eu falei, esse é problema das reputações boas, você tem que estar sempre mantendo o nível e quando, por alguma razão não acontece, as pessoas são mais críticas do que o normal. No geral é uma boa temporada, com histórias interessantes e personagens complexos, nada que caia com o nível pré-estabelecido pela série queridinha da internet, afinal tudo é sempre tão Black Mirror. E vocês, curtiram a temporada? Qual seu episódio favorito? Não esquece de me contar! 

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“Quando Deus muda nossos planos é porque algo vai melhorar. Confie.” Salmo 37.5

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