Dumplin

21:37


Eu me lembro claramente do dia em que conheci o livro Dumplin, escrito pela autora Julie Murphy e que se destaca por contar uma história cômica e real sob o ponto de vista de uma adolescente gorda. Naquele dia eu estava matando tempo na livraria do shopping enquanto esperava dar a hora do cinema e fui atraída por uma capa linda, simples mas que chama a atenção de quem passa por ela. Lá mesmo comecei a leitura e me apaixonei de num tanto que baixei no Kindle assim que cheguei em casa e terminei no mesmo dia. Um pouco depois de ler o livro, vi uma notícia nas redes sociais que dizia que a história ia virar filme da Netflix e fiquei bastante animada, como sempre acontece quando eu descubro que vão trazer meus personagens preferidos a vida, mas também meio nervosa porque eu bem sei como o cinema as vezes pode acabar com toda uma magia se não tomar cuidado e tratar bem daquilo que foi escrito. Ontem, dia 07, o filme foi finalmente lançado e eu tenho umas opiniões bem fortes sobre ele então tirei a poeira desse blog pra compartilhar ela com o mundo (ou pelos menos quem vai ler isso aqui, valeu pela moral viu?). 



Esse filme pode ser visto de dois jeitos e eu vou começar falando dele da primeira forma, como quem nunca leu o livro e está tendo contato com a narrativa pela primeira vez. A história é a da Willowdean (Danielle Macdonald), uma adolescente gorda e aparentemente feliz com o próprio corpo, que foi criada pela mãe e ex-miss Rosie (Jennifer Aniston) e pela tia também gorda e bem resolvida Lucy (Hilliary Begley). Por motivos óbvios a relação dela com a tia sempre foi melhor que com a própria mãe e por isso que é tão sofrido pra ela quando ela morre. Nesse momento difícil ela se apoia nas duas coisas que ela ama e conheceu por intermédio da Lucy: a melhor amiga Ellen (Odeya Rush) e o amor pela Dolly Parton. Além de tudo isso, ela ainda tem uma paixão platônica pelo colega de trabalho Bo (Luke Benward) e um ranço interminável pelas meninas que participam do concurso de beleza da cidadezinha dela, que por sinal é coordenado pela mãe da mesma. É no meio dessa confusão toda, como uma forma de homenagear a tia e lutar contra os padrões impostos pelos concursos de beleza, que ela se junta com mais um grupo de meninas fora do padrão e decide entrar na competição, só pra provocar. 


O filme tem um tom leve e engraçado apesar de tratar de um tema super importante, o que é bom porque diverte e ainda passa uma mensagem ainda muito necessária nos dias de hoje. Ele fala sobre gordofobia, amor próprio, relacionamento entre mãe e filha e ainda apresenta com naturalidade personagens LGBT+ como a Hannah (Bex Taylor-Klaus) e um grupo de drag queens que tem um papel importantíssimo no enredo. Junto com isso tudo a gente ainda vê um lance que não é muito tratado em lugar nenhum mas que acontece demais por aí, a insegurança de algumas pessoas gordas em relacionamentos, tanto em entender porque a outra pessoa está interessada quanto com o que os outros vão falar quando virem o casal. Eu não achei que o filme perpetuou discursos gordofóbicos, como é o caso de Insatiable que se utiliza deles pra ser irônico e criticar, e inclusive me senti bem representada em alguns momentos, um pensamento meio que "nossa, é exatamente assim que eu me sinto!". 


Ah, posso falar que amei os figurinos do filme? Um dos meus maiores problemas com Sierra Burgess É Uma Loser por exemplo era como vestiram mal a personagem, principalmente na cena do baile. Poxa, eu entendo que a menina é gorda, mas não dava pra colocar um vestido de festa bonito nela? Dumplin não tem esse problema, todos os looks da Willowdean quando ela está arrumada real são lindos, ela está tão linda na cena da parte de talentos do concurso de beleza que eu fiquei meio in love haha. As outras meninas também tão muito lindas, cada uma no seu estilo, achei tudo muito bem escolhido e de muito bom gosto.



Já a trilha sonora fica por conta, óbvio, da musa Dolly Parton, que inclusive gravou Here I Am, um single inédito em parceria com a Sia, especialmente pro filme. As músicas da Dolly tem um astral maravilhoso e eu achei que combinou com a vibe que o filme quis passar e com os personagens que ele tem. 


Falando sobre o elenco, achei a maioria dos atores bem escolhidos, eles encarnaram bem os personagens do jeitinho que eu imaginei lendo o livro mas, como nem tudo é perfeito, quero aqui fazer uma reclamação formal sobre o Luke Benward, o ator que interpreta o Bo. Não to falando mal da atuação dele não ta? O meu problema é outro. Gente, esse homem parece que tem 30 anos na cara e era pra ele estar NO COLÉGIO! Eu não consegui sentir química nenhuma entre os atores por isso, eu sempre achava que eles tavam em faixas etárias diferentes e que era muito estranho pra proposta do filme mesmo sabendo que não é bem assim na vida real. Ah, um minuto de silêncio pra como a Jennifer Aniston ta linda e perfeita nesse papel de miss decadente. Essa mulher não envelhece, eu ver ela em Friends e nesse filme é a mesma coisa, eu nunca vi um negócio tão bizarro assim em toda minha vida, QUE MULHER


Agora falando do ponto de vista de quem leu o livro: ai, mas deixaram tanta coisa de fora! Se você ainda quer ler pode pular essa parte porque tudo é spoiler mas eu preciso falar de tudo que eu senti falta vendo o filme. Pra começar, eu sinto que o livro tem muito mais do relacionamento Will e Bo do que o filme, no filme eles nem falam que ele é o único que chama ela assim, não dão a devida importância a um apelido tão deles e nem a todo o resto desse relacionamento que me deu arrepios em todas as cenas que eu li no livro. A briga entre a Will e a Ellen também foi totalmente minimizada, os motivos reais pra ela acontecer foram apagados e tudo se resumiu a Will sendo invejosa porque a amiga é magra, o que não é bem assim. Originalmente, elas tem um problema bem mais profundo porque a Ellen não divide as coisas do seu relacionamento com a melhor amiga e sim com a Cassie, o que aumenta o atrito entre elas. Por fim, no filme ninguém menciona um outro relacionamento que a Willowdean tem e super ajuda a moldar ela como pessoa até o final da história, o triângulo amoroso que se desenrola nas páginas pra mim foi tão importante quanto todo o resto e eu não gostei de não ver ele retratado no filme. Isso tudo não diminui meus sentimentos pelo filme, eu gostei da história, de como ela foi retratada, mas é impossível não sentir falta de pequenos detalhes que precisam ser cortados pra caber nas quase duas horas mas que pra mim são de extrema importância. Aconteceu a mesma coisa comigo vendo Para Todos os Garotos que Já Amei, eu já devia estar acostumada, mas eu nunca vou deixar de sofrer pelas pequenas coisas não contadas. 

Em suma é isso, amei o filme mas, tendo lido o livro, achei que faltou pra chegar naquilo que eu imaginei na minha cabeça. De qualquer forma, eu acho que todo mundo tem que ver ele pelo menos uma vez pra tentar entender como funciona a cabeça de uma adolescente gorda mesmo que superficialmente e aprender cada vez mais a ter empatia com todos. É ótimo pra uma tarde de netflix and chill, vocês não vão se arrepender, eu juro!


You Might Also Like

0 comentários

Deixe sua opinião, os comentários serão respondidos quando possível!

“Quando Deus muda nossos planos é porque algo vai melhorar. Confie.” Salmo 37.5

Subscribe